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domingo, 7 de fevereiro de 2010

@ Incríveis locutores

Os incríveis locutores da "Jacaré FM"

Por Gilberto Dimenstein

NA RÁDIO "Jacaré FM", pauteiros, editores e locutores têm, no máximo, seis anos de idade e, no mínimo, quatro anos. Apesar de ser um produto veiculado apenas pela internet (radiojacarefm.spaces.live.com), eles fazem sucesso com uma audiência cativa. Semanalmente, são ouvidos com atenção pelos colegas da escola -afinal, os professores não só deixam como estimulam que o programa seja tocado durante as aulas.Não dá para saber se os integrantes da "Jacaré FM" têm futuro profissional em comunicação. Mas posso garantir que, por trás da experiência desenvolvida nessa escola municipal de São Paulo, existe uma profissão de futuro. Pela primeira vez, essa carreira ganha um curso de graduação.

A USP criou o curso de educomunicação -o que, em poucas palavras, mostra como usar os meios de comunicação na aprendizagem. É muito mais fácil ensinar português para uma criança seduzida pela necessidade de falar numa rádio, na TV ou num site do que rabiscando na lousa regras da norma da culta. Lembremos que, na semana passada, saíram os resultados sobre o desempenho dos alunos da rede municipal paulistana -a imensa maioria não atinge os níveis satisfatórios em português e matemática.

Um caso de educomunicação é exibido por Maria Eugênia Geve, 14 anos, que criou uma comunidade no Orkut em que jovens escrevem romances -na prática, uma editora que estimula as pessoas a desenvolver o prazer da escrita. Vai ser inaugurada amanhã no local em que, no passado, era o Carandiru, uma biblioteca pública, onde uma das principais atrações serão os computadores com acesso livre à internet e a jogos eletrônicos. Serão disponibilizados CDs e DVDs. Por mais completo que fosse o acervo de livros, dificilmente esse espaço seduziria o público sem os recursos digitais. Não é mais possível imaginar que se possa educar sem lidar com a comunicação. Fora disso, a escola vai ficando cada vez mais defasada, limitada entre quatro paredes, enquanto os alunos navegam digitalmente pelo planeta.

É um ambiente de transmissão cada vez mais veloz de informações, que exige um acompanhamento diário e profissional. Tudo corre tão rápido que aquilo que para os adultos ainda parece novidade envelhece rapidamente -o e-mail, por exemplo. Os mais jovens preferem se comunicar pelas redes sociais e se irritam com o lixo que chega nos e-mails. Na semana passada, uma pesquisa da Pew Research Center mostrou que as crianças americanas encaram o blog como uma ferramenta ultrapassada. Optam pelo Twitter e pelo Facebook. Segundo a Kaiser Family Foundation, crianças e adolescentes estão ficando menos diante dos aparelhos de televisão, afinal podem acessar os conteúdos dos programas no YouTube, tanto pela tela de um computador como de um telefone celular. Mesmo quando diante da televisão ligada, a atenção é dividida com esses aparelhos.

Apenas um número encontrado por essa fundação já justificaria o papel do educomunicador: diariamente, um jovem americano é submetido a quase 11 horas de conteúdos de entretenimento. Pesquisas disponíveis revelam que, no Brasil, a tendência é semelhante.

Por causa desses números, muitas vezes, os meios de comunicação são olhados com desconfiança ou até demonizados pelos professores. É como se fossem mais um elemento de indisciplina. Daí que falar em transformar as lan houses em espaços educativos parece uma heresia -aliás, recebi uma pesquisa mostrando que universitários que usam as lan houses para fazer cursos à distância demonstram melhor desempenho, por não se sentirem tão sozinhos. Acompanho desde a década de 1990 projetos comunicação, usando recursos digitais baratos, aplicados em escolas públicas e privadas dentro e fora do Brasil. Quando bem orientados, a resposta é quase sempre a mesma: desenvolvem-se as habilidades de pesquisa e de síntese. Juntam-se prazer e autonomia de aprendizado. Os alunos tendem a ver sentido no que estudam.

Tais resultados apenas reforçam a importância do debate concentrado em Brasília para a expansão da banda larga, foco de discórdia entre governo e telefônicas. A experiência mostra, porém, que sem a intermediação de um profissional de comunicação e educação, o computador não produz nada, mesmo com a conexão mais veloz de internet -muito menos uma rádio feita por crianças educadoras.

PS - Por falar em recursos baratos, acaba de ser produzido na internet um manual sobre como fazer vídeos. Ensina-se desde a montagem do roteiro até como editar as imagens feitas por celular. Coloquei o manual no catracalivre.com.br. Ótimo para ser usado nas escolas.

gdimen@uol.com.br

Publicado no jornal Folha de S.Paulo, Cotidiano, 07/02/10

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