Editorial publicado no jornal Folha de S.Paulo, p. A2, 02/02/10
Observadas de perto, dentro das salas de aula, as deficiências da educação no país parecem ainda mais graves do que o já desalentador retrato do ensino desenhado pelas estatísticas de matrícula e desempenho dos alunos.É o que se depreende da leitura de reportagem publicada nesta Folha (31/01), que acompanhou o dia a dia do colégio Miécimo da Silva, em Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. Trata-se de uma típica escola pública. No Enem de 2008, seus alunos obtiveram os mesmos 49 pontos alcançados, em média, por estudantes de todo o Brasil.
Há ali, é bom que se diga, exemplos de dedicação e comprometimento de funcionários e alunos. Mas isso não impede que o relato das carências do colégio chame a atenção. Docentes insatisfeitos e ausentes, alunos sem aula, atenções dispersas, problemas de disciplina e um sentimento difuso de falta de sentido preenchem os dias da escola.
Muitos dos obstáculos ao bom funcionamento se encontram além dos muros do colégio e dependem de mudanças mais amplas para serem superados. Mas há também, no âmbito da escola, excesso de burocracia e problemas de gestão, deficiências comuns a muitas instituições públicas de ensino do país.
A maior parte do expediente da diretora é consumida com problemas administrativos. Além disso, ela não tem liberdade para contratar ou demitir docentes -e lhe faltam instrumentos para premiá-los ou puni-los segundo o desempenho.
Pesquisas indicam que muitos professores do país conhecem o conteúdo a ser ministrado, mas não sabem como ensinar. É preciso investir em formação e salários; ao mesmo tempo é necessário melhorar a gestão, criar metas e conceder autoridade aos gestores para cobrá-las.
Em que pesem os medíocres resultados educacionais colhidos pelos governos tucanos em São Paulo, vai nessa direção, e de forma correta, a recente instituição no Estado de progressão salarial para professores com base em avaliação de mérito.A sociedade brasileira conseguiu colocar a quase totalidade das crianças na escola. Já é hora de voltar suas atenções para o que acontece lá dentro.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
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