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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

@ Orientador Educacional

Reflexão sobre o papel do educador

A Orientação Educacional é entendida como um processo dinâmico, contínuo e sistemático, estando integrada em todo o currículo escolar e enxergando o aluno como um ser global que deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos: intelectual, físico, social, moral, estético, político, educacional e vocacional.

Com esta definição, a professora e orientadora educacional Miriam Paúra alerta para a importância deste profissional no âmbito escolar, que consegue complementar o trabalho desenvolvido pelo professor e por outros membros da instituição.

"O papel do orientador educacional tinha um caráter eminentemente psicológico. Era uma ajuda ao estudante. Geralmente, era enfatizado o aluno-problema dentro da sala de aula, do colégio, que precisava de um atendimento específico daquele profissional. Assim, durante muitas décadas, este orientador era visto como um elemento complementar à escola, em especial para atender a estes estudantes", comenta.

Miriam Paúra explica que a Orientação Educacional é importante para auxiliar os alunos a descobrir suas competências e a ter uma reflexão mais significativa do cotidiano atual. Desta forma, segundo a professora, conseguiriam entender o contexto em que vivem com maior facilidade.

"Nós, orientadores educacionais, não estamos preocupados com o que o estudante apresenta de errado, mas em oferecer todas as condições dentro do colégio para que ele possa cada vez mais conscientemente formar-se como sujeito da sua própria história. Ratifico que o papel dos orientadores é exatamente auxiliar a construção da subjetividade, da formação desse aluno. E não ditar as normas, o que está certo ou o que está errado, mas fazer uma análise reflexiva dos papéis do estudante, escola e comunidade", afirma a orientadora educacional.

Qual é o papel do orientador educacional?

Miriam Paúra - O papel do orientador educacional, em tempos passados, tinha um caráter eminentemente psicológico. Era uma ajuda ao estudante. Geralmente, era enfatizado o aluno-problema dentro da sala de aula, do colégio, que precisava de um atendimento específico daquele profissional. Assim, durante muitas décadas, este orientador era visto como um elemento complementar à escola, em especial para atender a estes estudantes. Principalmente a partir da década de 80, foi crescendo o caráter pedagógico do orientador. E, hoje, é um educador dentro do colégio e auxilia os alunos e toda a instituição escolar e a comunidade, para que ambos consigam os seus objetivos e atuem melhor para uma educação de qualidade. A preocupação é com todos os jovens, para que se possa, trabalhando a sua subjetividade, construir a sua formação e fazer cidadãos mais livres, conscientes e autônomos da sua responsabilidade.

De que maneira esta função tem ajudado os educadores no sentido de melhorar o aprendizado dos estudantes?

Acredito que essa área poderá ajudar cada vez mais aos alunos, principalmente na descoberta das suas competências e em uma reflexão mais significativa do cotidiano atual, para eles poderem entender o contexto em que vivemos e qual a sua participação neste momento. Nós, orientadores educacionais, não estamos preocupados com o que o estudante apresenta de errado, mas em oferecer todas as condições dentro do colégio para que ele possa cada vez mais conscientemente formar-se como sujeito da sua própria história. Dizia Paulo Freire que ensinar a ler, escrever e contar, um dos papéis da escola, não era difícil. Complicado era formar o sujeito. Nesta máxima, ratifico que o papel dos orientadores é exatamente auxiliar a construção da subjetividade, da formação desse aluno. E não ditar as normas, o que está certo ou o que está errado, mas fazer uma análise reflexiva dos papéis do estudante, escola e comunidade.

Dê alguns exemplos desta função.

Vou dar um exemplo mais específico. Vivemos um momento extremamente marcado pela violência, pelas drogas, e uma série de ferramentas que nos apresentam para a questão do jovem, que está muito mais separado do que integrado ao contexto. Então, cabe ao orientador este julgamento, permitir ao aluno o conhecimento desta realidade, fazê-lo ver que todo este contexto tem a ver com o momento em que vivemos, como a globalização, as novas tecnologias, de um país neoliberal, de uma sociedade pós-moderna. Dizia um autor que estamos vivendo em uma sociedade do espetáculo, tudo é grande, a fama é sempre maior. O papel do orientador se dá basicamente em três momentos. Primeiramente, discutir este conhecimento do sujeito, quem é o indivíduo, o aluno, o colega. Essa individualidade na coletividade. O segundo é promover uma reflexão dos seus objetivos, valores. Como por exemplo, a violência. Será que se todo mundo usa drogas, eu terei que usar para pertencer àquele grupo? O que preciso fazer para mostrar que sou diferente? Não é uma apresentação doutrinária de valores previamente concebidos como certo ou errado, e sim uma reflexão consciente do contexto atual. Na televisão, vem sendo mostrada a questão da ética, do dinheiro sendo utilizado, acredito que de forma indevida, por uma série de pessoas que deveriam dar o exemplo. Como trabalhar com uma realidade como essa, em que há uma inversão de valores? Um terceiro momento são as perspectivas. Os orientadores têm de discutir com os estudantes qual é a visão de mundo que eles têm. É preciso discutir a problemática. Isto não se refere ao aluno. O que diz respeito à escola, o orientador deve atuar sobremaneira no projeto político pedagógico, que não vem pronto da direção para ser desenvolvido por jovens e professores. É de extrema importância a presença da orientação educacional nas instituições. Outro exemplo que posso dar é que, há pouco tempo, uma revista apresentou as dez melhores escolas do Rio de Janeiro no ranking do vestibular. Todas elas têm orientação educacional. Costumo cunhar uma frase de que colégio de qualidade possui orientação educacional, que sempre ajuda alunos, pais, professores e direção a reviver, revigorar. É preciso ficar atento para transpor os muros da escola. Se há espaços ociosos nas instituições nos fins de semana, por exemplo, eles poderiam ser abertos para a comunidade participar, com atividades de lazer ou culturais.


Há algum tempo, era comum a atuação dos chamados explicadores, que orientavam os alunos que tinham dificuldades em determinada matéria. Existe algum tipo de relação com esta função?

Não existe. Os explicadores eram ligados mais à área do conhecimento, o professor que tirava as dúvidas dos estudantes. Isso ainda existe hoje. Eles estão presentes, principalmente, para ajudar os alunos a ingressar nos vestibulares. Até em séries abaixo, mas que precisam passar por provas. Os orientadores educacionais não são explicadores, são promotores desta reflexão maior deste contexto atual.

Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos orientadores para exercerem a função?

São três grandes dificuldades. A primeira está ligada à formação. Até maio de 2006, a orientação era feita em cursos de graduação ou pós-graduação, pela lei vigente, em Pedagogia. No dia 15 de maio do mesmo ano, houve uma nova organização da graduação de Pedagogia, na qual a ênfase maior se dá para a formação de professores para as séries fundamentais, educação de adultos, inclusiva e para as empresas. Ampliou-se o leque de atuação, mas continua, entretanto, para orientadores, supervisores e administradores, de acordo com esta mesma resolução, pelo artigo XIV, que a formação se dará em cursos de graduação. O parágrafo 1° diz que poderá ser em pós-graduação. Orientador educacional é uma profissão regulamentada por lei desde 1968. Portanto, tem que seguir as normas instituídas pela documentação legal daquele ano e também de 1973, que regulamentou a profissão. Na sua maioria, temos hoje a orientação educacional oferecida em cursos de pós-graduação lato-sensu, perfeitamente de acordo com a norma vigente. O segundo problema é a falta de entrosamento e entendimento do papel do orientador na escola. Ora há alguma autoridade que diz que precisa de professor em sala de aula e que não precisa ter orientador, ora tenho a dimensão de achar, no caso de escolas públicas, de prover mais um cargo. No caso de colégios particulares, de remunerar um outro profissional para esta atividade, que supre esta função, o que também é lamentável. O terceiro problema é a falta de integração dos orientadores. Durante a nossa história, temos tantas dificuldades que foi ficando em aberto este momento de integração. E vamos levando nossas tarefas mais numa dimensão complementar do que integradora. A todos os orientadores, tenho uma boa nova. Há dois anos, os estados do Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, em especial, criaram a Federação Nacional de Profissionais em Orientação Educacional (Fenapoe), que está caminhando a passos largos e ano que vem, se tudo der certo, teremos um grande congresso, mobilizando todos os orientadores e as autoridades para dar aos profissionais o prestígio e destaque que merecem. Posso assinalar dois dados significativos. Estamos fazendo os entrosamentos e contatos necessários para a criação dos conselhos nacional e estadual. Não estamos medindo esforços para a criação destes núcleos.

As escolas têm reconhecido este esforço e incentivado a formação de orientadores para atuar em sala de aula?

De um modo geral, não. É um profissional que está sendo muito solicitado? Eu diria que não. Mas posso afirmar que as escolas que possuem seus orientadores não abrem mão deles por nada, principalmente as particulares. Geralmente, é uma equipe de profissionais, por causa do número de estudantes. Tenho percebido nas viagens que tenho feito que este panorama está mudando.
Como os estudantes têm percebido a atuação dos orientadores?Eles têm percebido muito bem, de uma maneira muito interessante. Sou professora do curso de Pedagogia da Uerj que, no início, não é voltado para a orientação educacional, mas evidentemente, como profissional da área, sensibilizo meus alunos para esta importância, fazendo-os se envolver para, quem sabe, depois voltar e fazer uma pós-graduação em orientação educacional.

O poder público tem alguma política de incentivo a esta função no país?

Não há nenhum incentivo. Acredito que o Poder Público precisava de maiores esclarecimentos. Quero ter parcerias com as secretarias de estado e municipais, para mostrar do que somos capazes e colaborar para alcançar uma educação de qualidade. Muitas vezes me pedem uma orientação sobre a caracterização do profissional desta área. Ele é um professor, não é técnico, não é função administrativa. Indico e sinalizo onde está isso nas leis. Tenho problemas, dei vários pareceres, principalmente para as escolas particulares, que colocam este orientador como técnico-administrativo. Com isso, a questão da remuneração é menor e a aposentadoria, maior. Mais tempo de serviço e o salário é menor. Portanto, os vencimentos, a formação e o tempo de serviço são iguais aos de um professor. Estou inteiramente à disposição para quem tenha alguma dúvida ou interesse para demonstrar onde está escrito nas leis anteriores isto que eu disse.

O fato de orientadores educacionais ingressarem no sistema pedagógico tradicional significa que somente o trabalho docente não tem dado conta da função de educar?

O trabalho docente de uma escola, mais ou menos, segue à risca os seus objetivos. Há professores de todas as disciplinas da grade curricular. Isto eles precisam dar conta. Mas o aluno que está sentado na cadeira é gente e possui uma série de problemas que vêm junto com os seus livros, e precisam de alguém no colégio para ajudar a desenvolver estas tarefas. Temos visto nos jornais uma série de violências advindas dos estudantes nas escolas, agressões aos professores. É preciso ser discutido. Mas não cabe uma discussão para saber se o jovem está errado, se vai ser suspenso ou expulso. Quem discute isso? A minha grande preocupação é que a educação de uma maneira geral seja de responsabilidade das novelas. O que passa na televisão tem muito mais repercussão do que na escola. Essa competição é até desleal. Da mesma forma que diverte, ela não necessariamente tem o intuito de ensinar. Cabe a nós, principalmente os orientadores, esta enorme discussão. Tenho uma vontade enorme de resolver, da novela passada, o caso de um estudante que batia nos professores. Ele se tornou um mito. Era preciso colocar um serviço de orientação para resolver o problema. O conceito tradicional de família também mudou. Não existe mais o pai que sai para trabalhar e a mãe que fica em casa. Muitas vezes, a família coloca uma responsabilidade no colégio que, além de ensinar e aprender, teria que formar e educar. Não é assim. Ninguém substitui o papel da família. Posso trabalhar a conscientização, mas substituir, não dá.

Uma das principais preocupações atuais de pais e educadores diz respeito à violência no ambiente escolar. Como os orientadores podem ajudar a combater esta prática?

O combate à violência se dá por três maneiras. Primeiro, discutindo o que é violência. Para os alunos de lugares de regiões mais perigosas, a violência é mais do que normal. Discutir o que significa. A segunda: a quem cabe o resultado, o que vai ganhar com isso, praticando-a? Está naquela guerra para vencer ou morrer? Com este tipo de violência, vai vencer o quê? Qual vantagem poderá ter se for bem-sucedido? Nestas regiões mais perigosas, a faixa etária média dos jovens é de 25 ou 26 anos. Este jovem vai viver até essa idade apenas? A terceira maneira é a ação, mesmo que pequena, para minimizar esta questão. Muitos alunos me dizem que ela é mais forte. Evitar andar em locais problemáticos e outros métodos são algumas saídas. Mas não é só este tipo de violência que assola. Há também a falta de respeito, agressões verbais. Para discutir com os estudantes, passaria filmes, leitura de livros, traria para a escola determinadas pessoas para contar suas histórias, com depoimentos positivos. Sempre digo: a vida não é só razão e conhecimento. Ela é também emoção e sentimento. Em várias situações, o lado emotivo está totalmente envolvido. O trato com este tema é fácil na repercussão posterior. Dado um determinado ato de violência, há uma medida punitiva desta ação, como por exemplo, ‘se dirigir não beba, se beber não dirija’.

Falando da área educacional de uma maneira geral, como a senhora tem analisado os esforços do poder público para melhorar a educação em nosso país?

Acredito que o Poder Público, tanto a secretaria estadual quanto a municipal, tem procurado diferentes meios através de suas políticas para fazer com que estes alunos tenham melhores condições nos colégios, os critérios de avaliação, trazendo a tecnologia para dentro das escolas. Só acredito que há um problema muito sério na questão dos órgãos públicos, sejam estaduais, municipais ou federais. O nosso país sofre um zigue-zague educacional. A cada governo, vêm novas medidas, critérios e objetivos. É preciso que se dê continuidade às políticas que deram certo para que possamos melhorar. Senão, a cada troca de governante, novas medidas vêm modificando. Não tenho como precisar, mas nos últimos dez anos tivemos um número muito grande de secretários estaduais de Educação. É necessário que haja uma solução de continuidade dos projetos significativamente bons e resolver os outros, pois sempre estaremos começando da estaca zero.

Mais um ano está terminando e a questão da valorização do professor continua incomodando os representantes da área acadêmica. Por que o país tem tanta dificuldade, na sua opinião, de reconhecer o trabalho docente?

Os professores sofrem um mal de uma categoria que não é a mais importante. Verifico quando há um profissional de outras áreas, principalmente de Saúde e Direito, que também são docentes, ele é capaz de colocar no seu receituário que é professor doutor. Isto é muito importante. Para a área de Ciências Humanas, não há este dado significativo. Acredito que deveríamos ser mais respeitados. Temos uma realidade dura, a relação professor e aluno cada vez mais difícil. O reconhecimento auxilia bastante. Os salários são baixos e fazem com que os docentes tenham dupla ou tripla jornada de trabalho. Como este profissional vai comprar livros, fazer cursos? As autoridades deveriam voltar seus olhos para esta categoria.

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