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domingo, 5 de setembro de 2010

@ Jovens invisíveis

por Eduardo Macedo de Oliveira

Paris, maio de 1968. Nos muros da capital francesa, pintavam-se e espalhavam-se frases, tais como: “a imaginação ao poder”, “só a verdade é revolucionária”, “amai-vos uns sobre os outros”, “não me libertes, eu me encarrego disso”, “o ato institui a consciência”, “é proibido proibir”, “o Estado somos nós”, “sejam realistas, peçam o impossível”, “a ação não deve ser uma reação, mas uma criação”. Muros rebeldes, sem dúvida, consequência de um movimento sem precedentes de greve e protesto, iniciado por jovens e estudantes, que tomaram proporções revolucionárias naquele ano. Uma resposta contundente, ousada e criativa à sociedade dos anos 60.

No final do mês de agosto, esteve em Porto Alegre (RS), um dos líderes mais expressivos daquele movimento, Daniel Cohn-Bendit, “Dani, o Vermelho”, como era conhecido em 1968. Com 65 anos, deputado no parlamento europeu e líder do Partido Verde alemão, proferiu palestra naquela cidade e encontrou-se com a candidata à presidência Marina Silva.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo (p. E4, 25/08/10) afirmou: “é preciso esquecer maio de 1968”. Discorreu sobre o fracasso das utopias do passado “a revolução francesa, comunismo, fascismo e revolução cubana”, justificando-se a sua ideia, pois todas elas resultaram em barbárie. Ressaltou: “a democracia burguesa é a única alternativa possível, pois ela constitui a base das sociedades abertas”. Durante a entrevista, surgiu uma pergunta crucial: “qual a diferença entre ser jovem hoje e nos anos 60?”, e Cohn-Bendit respondeu “hoje é muito mais difícil. Em 68, todas as utopias – as mais justas, as mais tolas – estavam à nossa disposição. Hoje, elas não querem dizer mais nada, e as crises – econômica e ecológica – são mais profundas, o que torna mais difícil para o jovem encontrar o seu lugar”.

Em breve, estaremos diante das urnas optando por representantes para o poder executivo e legislativo nos âmbito estadual e federal. Dentre as propostas dos partidos e candidatos, quais e quantas seriam focadas nos jovens? Parafraseando Cohn-Bendit, qual o lugar dos jovens no século XXI, especialmente em nosso país?

Pesquisas, diagnósticos e fatos se multiplicam, e as notícias não são promissoras. Em Uberlândia, por exemplo, basta acompanhar a mídia eletrônica e impressa, para constatarmos nas suas páginas e programas policiais, o alarmante e significativo número de jovens infratores e ocorrências associadas. Na educação, somente 50% dos jovens entre 15 e 17 anos encontram-se no ensino médio.

Obviamente, temos jovens e jovens, dependendo das barreiras e preconceitos sociais, culturais, étnico-raciais, de gênero, classe social, nível de instrução, entre outras.

Neste contexto, as políticas públicas desconhecem territórios tornando-se estéreis e ineficazes para apresentar e garantir oportunidades e horizontes para os nossos jovens, que representam na América Latina (entre 15 a 24 anos), 19,5% da sua população.

Na edição de hoje do jornal Correio, da qual você esteja lendo neste momento, com certeza algum dos nossos jovens se tornou mais uma pauta, isto é uma notícia, em especial na área de segurança pública, vítima da exclusão social e econômica, da miopia e insensibilidade de nossas autoridades. Infelizmente, os jovens são invisíveis para a sociedade. Para cuidar da juventude não basta organizar uma partida futebol ou show de rock!

texto enviado para publicação no Jornal Correio

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