Incluir a família do aluno
por Maria Antônia Maciel (*)
Se a família muda, os conceitos também devem mudar. O modelo de família patriarcal está em decadência e a escola de hoje já não é mais apenas um “lugar de ensinar”.
Família e escola devem progredir juntas em benefício de seus filhos/alunos. Quando a criança não aprende, uma atribui culpa à outra e, no meio do jogo, vai-se a autoestima da criança, tão necessária ao seu desenvolvimento global.
Escola inclusiva convida a família que o aluno tem e já sabe que o capitalismo empurrou a mãe para o mercado de trabalho, apregoou a liberdade de escolhas, descentralizou o autoritarismo patriarcal e quebrou a rigidez das normas. Neste contexto de “modernidades” (se assim podemos dizer), entre custos e benefícios, está a criança em sua nova família, frequentando ainda uma escola bastante saudosista.
Os alunos de antigamente respeitavam os professores, deles se orgulhavam, se interessavam pelos livros e moravam com papai e mamãe num ambiente de valores morais, cívicos e religiosos. Acontece que, naquele tempo, este “paraíso escolar” era para poucos e estes modelos não mais predominam.
A criança é criança em qualquer tempo ou lugar, o que mudou foi o ambiente e estas crianças não podem ser culpadas por isso. Elas ainda são as mesmas, moldadas e influenciadas pelo meio.
Felizmente, o acesso à educação está praticamente universalizado, todos podem ir à escola e todas as “novas famílias” mandam seus filhos para a escola. Se o capitalismo exacerbou a concentração de riquezas e criou famílias sem tempo para os seus filhos, a escola abraçou outras responsabilidades e tem enfrentado situações complexas para assimilar os outros verbos que se juntaram ao ensinar: educar, compreender, diagnosticar e, principalmente, amar.
Quando os conceitos resistem às mudanças evidentes, a escola corre o risco de excluir as “novas famílias” e criar barreiras à permanência das crianças no ambiente escolar. O desenvolvimento do aluno é um processo global que depende de vários fatores, principalmente do envolvimento positivo da escola com a família que a criança tem. Jamais devemos associar o fracasso escolar às classes populares. Isto sim, é exclusão social.
Em vez de procurar culpados ou tentar achar soluções milagrosas para a realidade que aí se apresenta, é mister que a escola “enxergue” as mudanças, que não rotule alunos nem sonhe com as famílias patriarcais. A “nova família” ao contrário do que se possa pensar, valoriza sim os estudos de seus filhos. Precisa ser aceita, convidada e incluída. Precisa saber das práticas pedagógicas e dos processos avaliatórios, para que saiba participar e entenda a importância de sua participação no processo educacional de seus filhos.
Sim, não restam dúvidas de que este “chamamento” é penoso, cansativo e incompreendido, às vezes. Mas é notório que, quando a família participa, os ganhos são evidentes. Família interessada e incluída, faz elevar a autoestima da criança, favorece sua permanência na escola e o gosto pelos estudos.
A escola exclui quando descarrega problemas e inclui quando conhece o aluno, explica o que faz e propõe cooperatividade.
(*) Escritora e pedagoga
publicado no jornal Correio, Ponto de Vista, p. A2, 12/06/10
sábado, 12 de junho de 2010
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