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domingo, 15 de agosto de 2010

@ Jovens Urbanos

Escola de vampiros

por Gilberto Dimenstein

Batizado de Jovens Urbanos, o programa convida moradores da periferia paulistana de 16 a 21 anos para descobrir a cidade e suas possibilidades. O projeto, desenvolvido pelo Cenpec, uma espécie de laboratório de experimentações de aprendizagem, organiza uma sequência de provocações intelectuais destinadas a despertar a curiosidade.

Durante 16 meses, são oferecidas oficinas de tecnologia digital, imagem e som, hotelaria e gastronomia, moda, design, arquitetura, tudo isso em meio a passeios pela cidade.

Nos últimos três anos, conheci alguns desses jovens, que, sem exagero, pareciam viver em guetos. Poucos já tinham ido a um cinema. Tinham tamanha defasagem educacional que dificilmente conseguiriam ler um texto com um mínimo de complexidade. Como eles seriam se não tivessem passado por essa vivência?

Para responder cientificamente a essa questão, pesquisadores montaram um grupo de controle. Eles acompanharam jovens de mesma idade, cor, gênero, renda e moradores do mesmo bairro dos frequentadores do programa.

Viu-se que os garotos do projeto Jovens Urbanos obtiveram, além da descoberta da leitura, emprego, uma renda maior no trabalho e até mais interesse em desenvolver ações comunitárias. Logo teriam, melhor desempenho na escola do que o verificado no grupo de controle, certo? Errado. É aqui que aparecem alguns dos vampiros que sugam a perspectiva da juventude brasileira que vive nas periferias.

Estamos lidando com a síntese da crise social brasileira, a mistura de jovens e a precariedade das metrópoles, onde fica a usina da violência, com baixas perspectivas.

Apesar de terem recebido tantos estímulos durante tanto tempo e, inclusive, uma bolsa mensal em dinheiro, os Jovens Urbanos não demonstraram nenhuma superioridade escolar em relação aos integrantes do grupo de controle.

Embora tenham ficado mais interessados pela vida, começado a ler livros, jornais e revistas e resolvido melhorar suas comunidades, a escola não entrou em seus planos.

Na verdade, eles não vislumbram utilidade na escola. Currículos distantes da realidade, professores desmotivados, infraestrutura precária, tudo isso "vampiriza" os jovens, sugando seu prazer de aprender -e a perda da vontade de descobrir está mais perto da morte do que a extinção física no meu entender.

publicado no jornal Folha de S.Paulo, Cotidiano, 15/08/2010

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